María Corina Machado vence o Prémio Nobel da Paz 2025, superando Donald Trump. Entenda o que motivou o júri, a reação mundial e as polémicas em torno das apostas e das declarações de Trump após a derrota.
A líder da oposição venezuelana María Corina Machado foi anunciada, em 10 de outubro de 2025, como vencedora do Prêmio Nobel da Paz. A escolha destacou o seu trabalho pela restauração da democracia na Venezuela e a defesa dos direitos humanos.
O anúncio, no entanto, ganhou um tom inesperado quando Machado dedicou o prêmio ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a quem agradeceu pelo “apoio decisivo” à causa venezuelana.
A decisão do Comitê Norueguês e a reação de Trump dominaram as manchetes internacionais e abriram um debate sobre política, diplomacia e o papel simbólico do Nobel.
O motivo da escolha do Comitê Nobel
Segundo o comunicado oficial publicado no site do Nobel Prize, María Corina Machado foi escolhida “pelo seu trabalho incansável em prol dos direitos democráticos do povo da Venezuela e por sua luta pacífica por uma transição justa e democrática”.
O comitê destacou ainda o caráter persistente da sua atuação, mesmo diante de perseguição política, censura e ameaças.
Machado fundou a organização Súmate, dedicada à transparência eleitoral, e tornou-se um dos principais rostos da resistência contra o regime de Nicolás Maduro.
Ao longo dos anos, enfrentou prisões domiciliares, bloqueio político e exclusão de eleições, mas manteve a defesa de uma mudança pacífica, o que a transformou em símbolo de resistência dentro e fora da Venezuela.
Quem é María Corina Machado
Nascida em Caracas em 1967, María Corina é engenheira industrial e uma das vozes mais influentes da oposição venezuelana.
Ela ganhou destaque nacional em 2004, ao participar do referendo revogatório contra Hugo Chávez, e desde então passou a ser uma das principais críticas ao governo chavista.
Em 2023, venceu as primárias da oposição com ampla vantagem, mas foi impedida pelo Tribunal Supremo de disputar as eleições presidenciais de 2024.
Mesmo sob proibição, continuou a coordenar campanhas e encontros com a sociedade civil. Para muitos venezuelanos, ela representa a esperança de mudança sem violência.
A polêmica dedicatória a Donald Trump
Logo após o anúncio do Nobel, María Corina Machado usou a rede X (antigo Twitter) para agradecer ao povo venezuelano e dedicar o prêmio a Donald Trump, afirmando que o ex-presidente teve um papel “decisivo” no apoio internacional à oposição.
“Dedico este prêmio ao povo da Venezuela e ao presidente Donald Trump, cujo apoio foi decisivo na luta pela liberdade do meu país”, escreveu Machado.
A mensagem rapidamente viralizou e provocou reações mistas. Enquanto parte dos apoiadores elogiou o gesto, críticos consideraram a menção a Trump uma atitude política controversa.
Trump reage e diz que o Nobel “lhe pertence moralmente”
Poucas horas depois, Donald Trump publicou em sua rede Truth Social que se sentia “honrado” com as palavras de Machado e que “ela mesma reconheceu que o Nobel da Paz deveria ter sido dado” a ele.
Trump escreveu:
“A verdadeira vencedora ligou para mim e disse que aceitava o prêmio em minha homenagem. Isso mostra que o mundo sabe quem realmente trabalhou pela paz.”
O ex-presidente já havia se autoproclamado candidato natural ao Nobel da Paz, alegando ter mediado acordos e evitado guerras durante seu mandato.
Para críticos, as declarações fazem parte de uma tentativa de autopromoção política; para apoiadores, reforçam sua influência global.
A reação internacional e as críticas
A reação à dedicatória foi dividida.
Nos Estados Unidos, analistas políticos apontaram que o gesto de Machado pode ter sido estratégico, para fortalecer alianças com setores republicanos que defendem sanções contra o regime venezuelano.
Na Europa, observadores consideraram o gesto arriscado, já que o Nobel da Paz tradicionalmente evita associações partidárias.
O governo de Maduro reagiu com ironia. Em comunicado divulgado pela imprensa estatal, afirmou que “o Nobel perdeu o rumo e se tornou ferramenta da propaganda imperialista”.
Impactos políticos e simbólicos
Na Venezuela
A premiação de María Corina Machado é vista como uma vitória moral da oposição. A visibilidade global aumenta a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro e atrai apoio diplomático para uma possível negociação política interna.
O Nobel também reacende o tema da liberdade de expressão e da repressão política no país, que permanece em crise humanitária e econômica.
Nos Estados Unidos
Para Trump, a polêmica funciona como combustível político. Ele reforça o discurso de que seu governo promoveu paz e estabilidade global, usando o episódio como exemplo.
Entretanto, muitos veículos de imprensa lembram que Trump nunca foi nomeado oficialmente pelo Comitê Nobel e que suas alegações de “ser merecedor” carecem de base institucional.
O significado do Nobel de 2025
O Prêmio Nobel da Paz de 2025 simboliza o reconhecimento da resistência democrática latino-americana e a importância do diálogo pacífico em contextos autoritários.
Mesmo com a controvérsia da dedicatória, o foco do prêmio permanece claro: destacar o esforço de civis e líderes que defendem valores democráticos sob condições extremas.
Ao entregar o Nobel a uma mulher que luta contra o autoritarismo e a desigualdade política, o Comitê reafirma sua tradição de premiar coragem moral e compromisso com os direitos humanos.
Conclusão
O Nobel da Paz 2025 ficará marcado tanto pela coragem de María Corina Machado quanto pela inesperada ligação com Donald Trump.
Mais do que um gesto político, o prêmio expõe o peso simbólico das lutas pela liberdade e o papel do reconhecimento internacional em tempos de polarização.
O nome de Machado entra para a história, mas o debate sobre a fronteira entre política e diplomacia — reacendido por Trump — promete continuar por muito tempo.
Fontes e leitura recomendada
- BBC News – Nobel Peace Prize
- El País – Venezuela e Nobel 2025