Salário Mínimo Nacional em Moçambique aumenta apenas 49 meticais


Salário mínimo em Moçambique aumenta apenas 49 meticais no setor da kapenta, enquanto banca regista maior reajuste. Veja números, reações sindicais e impactos no custo de vida.

O Conselho de Ministros aprovou, no dia 2 de setembro de 2025, a nova tabela de salários mínimos nacionais. A decisão, porém, gerou grande controvérsia no país, especialmente porque em alguns setores o reajuste foi considerado simbólico, ficando muito abaixo das expectativas dos trabalhadores e sindicatos.

O que mudou nos salários mínimos

De acordo com informações tornadas públicas, o setor da pesca de kapenta foi o que registou o menor aumento. O salário mínimo passou de 4.941,68 meticais para 4.991,09 meticais, o que representa apenas 49,41 meticais de acréscimo.

Já no setor da banca e seguros, o aumento foi mais expressivo. Os valores subiram de 17.881,32 meticais para 19.043,61 meticais, num reajuste superior a mil meticais. Ainda assim, sindicatos afirmam que, diante da inflação, este aumento não garante melhorias significativas no poder de compra.

O setor 9, correspondente à Função Pública, não registou qualquer alteração, permanecendo com os mesmos salários mínimos praticados anteriormente. Essa decisão foi recebida com frustração por funcionários públicos, que esperavam uma atualização para lidar com o custo de vida crescente.

Reações dos sindicatos e trabalhadores

A Organização dos Trabalhadores de Moçambique — Central Sindical (OTM-CS) não poupou críticas e classificou os novos salários como “números vergonhosos”. Para a central sindical, o aumento aprovado não cobre sequer as necessidades básicas de uma família média, muito menos compensa os impactos da inflação.

Representantes da OTM-CS defendem que deveria ser criado um mecanismo automático de atualização salarial, vinculado ao índice de preços ao consumidor, para que os trabalhadores não fiquem dependentes de negociações anuais que, na maioria das vezes, não acompanham a realidade econômica do país.

Muitos trabalhadores também reagiram negativamente. Nas redes sociais e em entrevistas, vários expressaram indignação, afirmando que um aumento de menos de 50 meticais não representa qualquer diferença prática no orçamento doméstico.

O peso da inflação no dia a dia

Um dos principais argumentos contra os novos salários mínimos é a inflação. O custo de vida em Moçambique tem aumentado, sobretudo no preço dos alimentos, transporte e energia. Estudos de organizações independentes apontam que uma família de referência precisa de mais de 20 mil meticais por mês para cobrir despesas básicas, enquanto grande parte dos trabalhadores recebe menos de um quarto desse valor.

Assim, o reajuste aprovado pelo Conselho de Ministros, mesmo nos setores que receberam aumentos mais altos, não garante um ganho real. Pelo contrário, há risco de que os trabalhadores continuem a perder poder de compra.

Comparação com anos anteriores

Nos últimos cinco anos, Moçambique tem registado aumentos salariais modestos em vários setores. Em 2023, por exemplo, alguns setores tiveram reajustes inferiores a 100 meticais, gerando insatisfação semelhante. Já em 2024, o aumento médio ficou um pouco acima de 300 meticais em determinados segmentos, mas novamente não foi suficiente para acompanhar o ritmo da inflação.

Este histórico de aumentos pouco significativos reforça a crítica de que o processo de negociação salarial não responde às necessidades reais dos trabalhadores.

Desigualdades entre setores

Outro ponto que chama a atenção é a disparidade entre setores. Enquanto a pesca de kapenta mal ultrapassa os 4.900 meticais de salário mínimo, a banca e os seguros já superam os 19 mil meticais. A diferença entre o setor mais baixo e o mais alto ultrapassa quatro vezes o rendimento mensal.

Analistas defendem que esta disparidade aprofunda desigualdades sociais e regionais, já que a maioria dos trabalhadores se concentra nos setores que recebem os salários mais baixos.

Impacto no setor público

A ausência de reajuste para a Função Pública foi recebida com surpresa e frustração. Professores, enfermeiros, técnicos administrativos e outros profissionais esperavam uma revisão, mas o Conselho de Ministros manteve os mesmos valores.

De acordo com fontes sindicais, esta decisão pode afetar a motivação e o desempenho dos funcionários públicos, que já lidam com desafios relacionados a baixos salários e atraso no pagamento de subsídios.

O debate sobre salário digno

A discussão sobre os salários mínimos em Moçambique está ligada a um tema mais amplo: o do salário digno. Organizações da sociedade civil defendem que não basta apenas definir valores de reajuste, mas sim calcular qual o montante necessário para que uma família viva com dignidade, cobrindo alimentação, habitação, transporte, educação e saúde.

Em vários países, este conceito já é utilizado como referência para estabelecer salários mínimos que realmente garantam condições básicas de vida. Em Moçambique, no entanto, a negociação ainda gira em torno de valores que pouco refletem as necessidades reais.

Expectativas para o futuro

Após a aprovação da nova tabela salarial, espera-se que sindicatos intensifiquem a pressão por revisões extraordinárias. Há também a possibilidade de manifestações ou greves em setores mais afetados, caso não haja abertura para diálogo.

Economistas recomendam que o governo adote políticas de médio e longo prazo que considerem tanto a sustentabilidade das empresas quanto a dignidade dos trabalhadores. Sem isso, a cada ano o debate sobre os salários mínimos continuará a ser marcado por frustrações e desigualdades.

Conclusão

A atualização do salário mínimo em Moçambique para 2025 deixou evidente a insatisfação da classe trabalhadora. Enquanto alguns setores, como a banca, registaram aumentos mais visíveis, outros, como a pesca de kapenta, praticamente não tiveram qualquer mudança no rendimento mensal.

Para os sindicatos, o reajuste é insuficiente e desrespeita a realidade econômica do país. O desafio agora é equilibrar as contas das empresas com a necessidade urgente de garantir condições de vida dignas aos trabalhadores moçambicanos.


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